Você sabe mesmo o que é um carnívoro?

Tanto na Biologia quanto na Medicina Veterinária ouvimos o termo 'carnívoro' com uma certa frequência. Na Medicina Veterinária é comum utilizar-se o termo até para identificar um animal. Por exemplo, se não conseguirmos identificar precisamente a que espécie animal um dente ou outra estrutura anatômica pertence,  podemos dizer que pertence a um carnívoro ou a um ruminante (Os ruminantes serão assunto de outro post). Às vezes os termos utilizados nem sempre são tão aparentados assim, mas aí já vira assunto de Biólogo.

O termo carnívoro, usado comumente em Biologia e em Medicina Veterinária, tem na verdade dois sentidos.

"Carnivora: Zoo. Ordem de Mamíferos que compreende os caninos, felinos, guaxinins, ursos, dentre outros. Uma das principais características do grupo é a presença de caninos bem desenvolvidos. Existem 274 espécies descritas, distribuídas ao redor do mundo." (VILELA; FERRAZ, 2009)

"Carnívoro: Eco. Diz-se dos seres que se alimentam de carnes. Também são chamados de predadores. O termo também refere-se a plantas que utilizam proteínas obtidas de insetos capturados." (VILELA; FERRAZ, 2009)

Seguindo o raciocínio, "Carnivora" vem do Latim (caro = carne + vorare = comer). Estão na Ordem Carnivora as seguintes Familias:

Canidae (cães, lobos, raposas, coiotes, lobo-guará);
Felidae (gatos domésticos, pumas, tigres, leões e linces);
Ursidae (ursos);
Procyonidae (guaxinins);
Mustelidae (martas, canganbás, fuinhas, lontras, texugos, furões e iraras e
Otariidae (focas, leões-marinhos e lobos-marinhos).

Os autores contam 280 espécies (HICKMAN et al, 2004). Essa diferença é comum em sistemática. Nem sempre os autores concordam com todas as espécies. Há autores que tendem a separar mais e outros que tendem a agrupar mais as variedades de animais.

Vejam a confusão: a onça-pintada (Carnivora: Felidae), animal da nossa fauna, tem hábito alimentar CARNÍVORO. . O lobo-guará (Carnivora: Canidae), da nossa fauna, é ONÍVORO, mas ingere predominante vegetais. Todos já devem ter ouvido falar da lobeira ou fruta-do-lobo (Solanum licocarpum). E o panda gigante (Carnivora: Ursidae), por sua vez, é HERBÍVORO. Mantem o corpinho à base de bambu. Tem até um osso da mão adaptado para segurar e desfolhar o bambu.

Nosso velho amigo, o cão doméstico (Canis familiaris), é um Carnívoro, porque pertence à Ordem Carnivora. Mas quanto ao hábito alimentar é onívoro, também do latim, (omni = tudo + vorare = comer) que siginifica 'come de tudo'.

Assim, um carnívoro pode ser carnívoro, onívoro ou até mesmo herbívoro. Depende do contexto em que usamos o termo. Se usarmos 'carnívoro'  no sentido taxonômico (taxonomia é a área da Biologia que trata da organização dos seres vivos com base em suas semelhanças) estaremos nos referindo a um grupo de animais composto de quase 300 espécies.
Se usarmos no sentido ecológico (Ecologia é a área da Biologia que trata das interações entre os organismos e entre os organismos e o meio) estaremos nos referindo ao hábito alimentar.

Mas o que o hábito alimentar tem a ver com Ecologia? Tem tudo a ver. Se a Ecologia trata das interações entre os organismos, e entre estes e o meio, fica fácil perceber que os animais de hábito alimentar carnívoro ocuparão no mínimo a posição de consumidores secundários. Em outras palavras, serão sempre predadores.  E não necessariamente pertencerão à Ordem Carnivora.

Já vimos que Carnivora é uma Ordem da Classe Mammalia (mamíferos). As aves de rapina, como o falcão, são carnívoras quanto ao hábito alimentar. Mas pertencem à Ordem dos Falconiformes, da Classe Aves. Ou seja, não pertencem sequer à mesma classe, mas podem ser chamados de carnívoros, desde que no sentido ecológico do termo.

Sempre que ouvir o termo carnívoro, procure entender em que sentido ele está sendo usado. É nos detalhes que muitas vezes se encontram as diferenças.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
HICKMAN, et al. Princípios Integrados de Zoologia. 11 ed. Guanabara Koogan. Rio de Janeiro, RJ. 2004.
VILELA, M. M; FERRAZ, M. L. Dicionário de Ciências Biológicas e Biomédicas. Atheneu. São Paulo, SP. 2007. p.49

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